O processo de industrialização no Brasil, associado ao período de transição nutricional, impulsionou a produtividade da indústria de alimentos e bebidas. Observou-se um aumento de mais de 200% no consumo de alimentos processados e alimentos ultraprocessados entre os anos de 1974 e 2003. O aumento no consumo desses alimentos pode estar associado ao seu baixo preço de comercialização, tornando-se mais acessíveis a uma população inserida em um contexto de baixa renda.
Além disso, esses alimentos também são palatáveis, rápidos e práticos, podendo tornar-se alvo de uma população marcada pela pressa e falta de tempo. Assim, é mais comum a realização de lanches mais baratos e práticos com alta densidade energética e pouca qualidade nutricional. Como esse estilo de vida afeta decisões não só individuais, como familiares, populações infantis acabam sendo vulneráveis ao maior consumo de alimentos industrializados.
A base da alimentação infantil deve conter alimentos nutritivos que promovam o alicerce adequado para sustentar o crescimento e desenvolvimento normal das crianças. A combinação de alimentos de origem vegetal, com a complementação de pequenas quantidades de alimentos de origem animal, constitui uma alimentação nutricionalmente balanceada.
Por isso, deve-se incentivar o consumo de alimentos in natura ou minimamente processados, em grande variedade e predominantemente de origem vegetal (grãos, raízes, tubérculos, farinhas, legumes, verduras, frutas e castanhas). Deve-se também consumir alimentos com baixo teor de gordura saturada, gordura trans, colesterol, sódio e açúcares adicionados. No entanto, observa-se a substituição de uma alimentação rica em nutrientes por produtos industrializados prontos para o consumo.
Ao longo dos últimos anos, observou-se um aumento na oferta de alimentos altamente calóricos e de baixo valor nutritivo a crianças de pouca idade. Um estudo transversal realizado por Longo‐Silva, Silveira et al. (2017) com 400 pré-escolares, observou que até o 6º mês de vida, 75% dos pré-escolares já haviam provado ou consumido, algum tipo de alimento ultraprocessado, e no primeiro ano de vida 99% já haviam consumido. Escolares costumam ter acesso imediato a alimentos com alto teor calórico e pobres nutricionalmente, em lanchonetes e lojas de fast food localizadas nas escolas ou nas proximidades.
A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, realizado em 2015 no Brasil, demonstrou que crianças em idade escolar, apresentaram um elevado consumo semanal de alimentos ricos em açúcares e salgados, onde 41,6% e 31,3%, respectivamente, consumiram esses produtos em frequência igual ou superior a cinco dias. O excesso de açúcar, gordura e calorias presentes nesses alimentos, ativam os sistemas de recompensa no sistema nervoso central, levando ao comportamento hiperfágico. Por isso, o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados está constantemente correlacionado com o aumento da prevalência de excesso de peso.
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