De acordo com as Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), menos de 30% dos pesquisadores no mundo são mulheres. E é para incentivar a mudança deste cenário que no dia 11 de fevereiro é instituído o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. A data marca a forma de todos pensarem na importância da inserção e da valorização feminina neste mercado de trabalho. Dia 08 de março, no dia Internacional da Mulher, também é o dia de lembrar que as mulheres podem ocupar todos espaços do mercado de trabalho, inclusive nas ciências e tecnologia.
O que muita gente não sabe é que as mulheres tiveram protagonismo em diversos momentos científicos mundiais. Por exemplo, a matemática Margareth Hamilton, com 24 anos, entrou para a Massachusetts Institute of Technology (MIT), em 1960, para ser programadora e em uma parceria com a Agência Espacial Americana (NASA), tornou-se responsável por fazer parte da programação que levaria o homem à Lua. Com o seu crescimento profissional, Margareth foi diretora de desenvolvimento de software da nave Apollo, identificando e corrigindo erros do sistema, que permitiram que a missão espacial fosse um sucesso.
Voltando um pouco mais na história, em 1815 nascia em Londres, na Inglaterra, uma das pessoas mais importantes para o desenvolvimento dos estudos tecnológicos, e era uma mulher: Augusta Ada Byron, conhecida como a Condessa Lovelace, a primeira programadora da história. Lovelace foi responsável pelo algoritmo usado para calcular funções matemáticas. Entre seus trabalhos também estão incluídos uma máquina, reconhecida como o primeiro modelo do que viria ser o computador. E é em homenagem a esta cientista que um grupo de meninas e mulheres pernambucanas estão fazendo ciência na atualidade. “O grupo surgiu de uma iniciativa das meninas, inicialmente para estudar assuntos extracurricular que o mercado de trabalho exige. Ele é formado por 16 alunas do curso de Sistema de Informação”, explica a professora e mentora do Grupo Lovelace, Mariana Cerviño.
O grupo atua no Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU), em Olinda, e visa fazer com que mais mulheres busquem os cursos de tecnologia e se apaixonem pelas profissões que podem ser desenvolvidas na área, como a professora Mariana sempre sonhou. “Desde pequena, estive envolvida com tecnologia. Minha mãe era contadora de uma empresa de TI. Acompanhava ela e aprendi muito lá. Só repetia “quero ser Analista de Sistemas” e nem tinha noção do quão fantástico era. Entrei, em 2002, no curso de Ciência da Computação e comecei a trabalhar na área no mesmo ano. Foram anos de muita dedicação e esforço. Infelizmente para nós mulheres, a sensação é de “fazer dobrado”, como prova de que é capaz. Hoje quando olho pra trás são 18 anos de profissão e muito estudo. Isso me faz forte para incentivar minhas alunas nesse caminho difícil e recompensador, como também trazer mais meninas para área”, diz a docente.
Uma das alunas de SI que integra o grupo Lovelace é Tamyrys Gusmão. Ela diz que desde criança sempre soube o que queria ser. Fazia da calculadora seu brinquedo e na sua imaginação o objeto era um computador. “O tempo passou e eu apenas tive certeza de que essa era a área que eu queria para a minha vida, pois a tecnologia tem por objetivo não somente facilitar a comunicação e a maneira como realizamos alguns processos, mas também de inovar e modificar a maneira como vemos o mundo, pois não há um lugar sequer no qual a tecnologia não esteja presente”, enfatiza a jovem.
O trabalho desempenhado na UNINASSAU para Tamyrys é fundamental para encorajar mais mulheres a seguirem seus objetivos profissionais. Fora da academia ela admite encontrar resistência e preconceito na hora de buscar uma vaga de emprego, contudo ela é otimista com o processo de evolução da própria sociedade em legitimar o lugar da mulher em todos os espaços. “Passei por algumas "frustrações" ao realizar determinadas entrevistas, onde mesmo passando nas etapas do processo seletivo, não era selecionada por haver preconceito com o sexo feminino. Embora esse preconceito tenha diminuído bastante, infelizmente ele ainda existe! Mas fico feliz em ver que as coisas estão mudando e que as empresas estão mudando de visão e dando mais oportunidades às mulheres”, frisa.
Muitas empresas e startups de tecnologia estão criando programas de atração para mulheres nos setores de TI. Algumas delas chegam a ofertar cursos para qualificação desta mão de obra com o desejo de gerar oportunidades iguais para ambos os gêneros. “Grandes empresas de tecnologia reconhecem que ter mulheres na equipe é importante, não é apenas "feminismo". Em Recife a Accenture quer ter 50% das pessoas que trabalham nela como mulheres. Hoje são cerca de 20%, apenas, no mercado”, Comenta o Coordenador de Sistemas da Informação da UNINASSAU, Danilo Monteiro.
Inseridas no mercado de trabalho, a professora Mariana Cerviño ainda quer ser vista com equidade. “Sermos tratadas do mesmo jeito que nossos colegas meninos. Salários iguais. Mas acho que já mudou muito, temos mais mulheres ocupando cargos de chefia e inseridas no contexto das empresas de TI”, pontua. Já Tamyrys, que hoje é estagiária de Suporte de Infraestrutura, olha para frente com positividade. “Acredito que teremos um futuro promissor, pois a cada dia que passa vemos mais mulheres interessadas e engajadas nessas áreas. Estamos ganhando mais espaço e visibilidade e isso só tende a aumentar”, conclui a estudante.
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