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É preciso vivenciar o luto em sua totalidade

Professor de Psicologia da UNINASSAU Maceió explica importância do processo de luto na cicatrização da dor
Assessoria de Comunicação Por: Breno Leal 16/06/2020 - 07:26 - Atualizado em: 19/06/2020 - 07:28
Com o aumento acelerado de casos confirmados do novo coronavírus no Brasil, as mortes aumentaram e se tornaram nomes e rostos conhecidos. Agora, é difícil encontrar uma pessoa que não conheceu alguém que perdeu a vida para a Covid-19. Como medida para desacelerar o aumento dos casos, os protocolos de sepultamentos precisaram ser modificados, com caixões fechados, apenas familiares acompanhando e com um número reduzido de pessoas, além da proibição de idosos, pois fazem parte do grupo risco.
 
De acordo com o psicólogo e professor da UNINASSAU – Centro Universitário Maurício de Nassau Maceió, Paulo Nascimento, essa nova forma de realizar os sepultamentos mexe muito com a elaboração do luto. “Os rituais fúnebres oferecem um alento no momento mais profundo da dor, que é a despedida do corpo. É o momento mais agudo do processo, quando a dor da perda mais dói nos entes queridos. Esses rituais criam um clima de aconchego psicológico muito útil. Com as alterações que a pandemia da Covid-19 impõe, tudo isso foi modificado. Os efeitos psicológicos e emocionais dessa mudança só vamos descobrir em algum tempo”, pontua.
 
Paulo define o luto como um ciclo de reações emocionais e comportamentais diante da perda de um ente significativo que as pessoas tenham em suas vidas. “Digo perda, e não morte, pois o luto tem a ver com a quebra de vínculo, que pode ser um humano, um animal, ou até mesmo um objeto ou fase da vida, embora usemos mais essa expressão quando falamos da morte, que é a perda mais radical dos vínculos. Quanto maior for o vínculo que essa pessoa tenha com o ente, maior vai ser a intensidade desse ciclo”, explica.
 
O luto é um processo difícil, que envolve reações emocionais e comportamentais que estão além da vontade do indivíduo. Mas, segundo Paulo Nascimento, tudo isso é necessário. “Todo sofrimento, dor e pesar são necessários para a reorganização da vida a partir da ausência deste ente. Quando falamos de morte, falamos de uma perda irreversível de vínculo. Mas a vida segue e a rotina precisa ser reorganizada com a ausência dessa pessoa. Esse processo é como uma ferida, que, naquele momento, precisa doer, pois essa é uma sinalização para a necessidade de cuidar da ferida, até chegar a ser cicatrizada. A função da dor é fazer a pessoa se recolher, se cuidar, trabalhar sobre si, para, pouco depois, ter plenas condições de tocar a vida”, afirma o docente da UNINASSAU.
 
Estado de negação
 
Algumas pessoas, ao invés de viver a dor do luto, entram em um estado de negação do sofrimento. “Alguns querem demonstrar força, não querem passar sofrimento. Esse comportamento tem relação com o apego que temos as coisas. Nós somos apegados a pequenos objetos materiais, imagine para aceitar a quebra de vínculos com pessoas amadas? Então, a negação, para muitas pessoas, é um mecanismo de defesa que o inconsciente cria para proteger o indivíduo do sofrimento. Ele nega não necessariamente a morte, mas o fato de estar em sofrimento. Ao negar, tenta se resguardar desta dor. Mas, depois, o sofrimento pode vir ainda mais devastador, pois, nos casos de morte, a realidade vai se impor e o tempo vai mostrar que aquela pessoa não existe mais”, explica o psicólogo.
 
Luto patológico
 
Existe ainda o luto patológico, quando o tempo está passando e os sintomas não passam e a ferida não cicatriza. Nessas situações, o auxílio de outras pessoas e de algum profissional da saúde, como um psicólogo, é fundamental para despertar a pessoa para o fato de que ela está numa negação.
 
“Nós, profissionais da saúde mental, orientamos que, nesse campo, as pessoas façam tudo que elas puderem fazer por si mesmas. Antes de procurar ajuda psicológica, cuidem de si, estejam com a família, usem a espiritualidade como recurso, pois é algo importante nesse momento. Mas, claro, na medida em que essas mesmas pessoas ou pessoas próximas estão percebendo esse luto entrando num nível muito agudo e patológico, onde a pessoa está sofrendo em demasia, a presença de um profissional de saúde mental se faz necessária. Em algumas situações, quando luto provoca uma depressão profunda, o cenário ideal é o trabalho conjunto de um psiquiatra, para iniciar um tratamento medicamentoso, e o psicólogo, para ajudar a pessoa a ressignificar a perda”, orienta Paulo Nascimento.
 

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