Aos 35 anos, Gilvaneide Ferro tem dez filhos e trabalha como catadora de materiais recicláveis no bairro de Aguazinha, em Olinda, no Grande Recife
Gilvaneide Ferro, 35 anos, carrega em seu semblante o peso de ser a única fonte de renda e chefe de sua família. Ela reside em uma casa de um pouco mais de 30 m², no bairro de Aguazinha, em Olinda, Região Metropolitana do Recife (RMR). Com ela, moram seis de seus dez filhos. Os outros quatro vivem com a avó paterna, no interior de Pernambuco. Gilvaneide é uma das das 57,3 milhões de mulheres que são chefes dos lares no Brasil, segundo o Instituto Brasileiros de Geografia e Estatística (IBGE), e trabalha como catadora de materiais recicláveis para sustentar sua família.
Há 10 anos na função, ela se diz feliz por desempenhar tal serviço, que lhe rende menos de um salário mínimo por mês. "Por semana eu tiro R$ 45 por semana, às vezes R$ 200. Por mês tiro R$ 500 ou R$ 600", afirma. Assim como Gilvaneide, 60% dos trabalhadores do País, entre cargos formais e informais, tiveram renda mensal menor que R$ 998, o salário mínimo vigente em 2019.
Apresentando sua residência, Gilvaneide mostra o berço doado do filho mais novo, de 4 meses. Outros móveis e eletrodoméstico da casa como armário, geladeira, fogão também foram cedidos por pessoas que acompanham a dura trajetória da mulher. Ela se diz grata pela solidariedade das pessoas e em uma única frase resume a importância do ato: "(Com o dinheiro que recebo,) compro ‘comer’ para os meus filhos e pronto".
A situação de Gilvaneide expõe a falta de divulgação e desconhecimento das pessoas mais carentes sobre as políticas públicas assistenciais, de acordo com a coordenadora do curso de Serviço Social da UNINABUCO, Maricelly Costa Santos. "A ausência de conhecimento sobre os direitos ainda é um fator muito comum. Muitos potenciais usuários de políticas sociais desconhecem serviços e programas sociais os quais têm direitos. Isso coloca a necessidade de ampla divulgação, por parte dos gestores, sobre os serviços e o perfil dos beneficiários", pontua a especialista.
Para Maricelly, além dos programas de assistência tradicionais, como o Bolsa Família, o Estado deveria promover outras ações para assistir famílias como a de Gilvaneide. "Não podemos desconsiderar que outras políticas sociais são necessárias para assistir a essa família. Isso torna necessário uma rede de serviços, cujo o acesso se dê numa perspectiva de direito social, que garanta a essa família acesso à saúde, habitação, educação e emprego", enfatizou.
Questionada, Gilvaneide afirmou desconhecer a existência de um plano familiar e nem se manifestou sobre uma possibilidade de fazer um procedimento de laqueadura, que impediria que ela engravidasse novamente. Com todos os problemas que a cerca, ela afirma que só tem uma coisa em pensamento: driblar a ausência da figura paterna e trabalhar para poder alimentar os filhos.
Comentários