
por Matheus Felix
“Um dia, a humanidade terá de lutar contra a poluição sonora com a mesma determinação que luta contra a peste ou a cólera”. Em 1910, o médico alemão Robert Koch já acendia o alerta ao fazer tal declaração. Com o decorrer dos anos, ao que tudo indica, a população caminha em direção a mais um problema de saúde pública: a surdez. É o que aponta os estudos divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), nos quais foram previstos que, até 2050, cerca de dois bilhões de pessoas (25%) da população mundial será afetada com algum grau de perda auditiva. Há quem diga que esta conta já chegou. A afirmação ganha ainda mais força em decorrência da alta parcela da população exposta ao uso prolongado de fone de ouvido.
Hoje em dia, a chance de encontrar alguém que goste de praticar atividade física sem escutar uma música que lhe agrade é quase nula. Entrar no ônibus e não identificar um passageiro com fone de ouvido é tarefa difícil, assim como em um breve passeio pelas ruas da cidade. A popularização do uso de fone de ouvido entre as pessoas não é de hoje, entretanto, o que muitos deles não sabem é sobre os malefícios que eles podem ocasionar a curto, médio ou longo prazo.
“O volume alto e o uso prolongado do fone podem causar danos na cóclea, parte interna do ouvido. Após algumas horas em completo silêncio, a cóclea pode se recuperar. Entretanto, em alguns casos, o dano pode ser irreversível”, explica a médica otorrinolaringologista, Dra. Débora Bunzen, docente do curso de Medicina do UNINASSAU – Centro Universitário Maurício de Nassau Recife.
Situações ocasionadas pela pandemia também agravaram o uso do fone de ouvido. No cenário atual, a população precisou se readaptar às novas práticas do cotidiano. Estudantes, por meio das aulas on-line, utilizam os fones, assim como os profissionais que trabalham de maneira remota. Essas longas jornadas utilizando o acessório expõem a população ainda mais aos riscos.
Débora comenta sobre os procedimentos necessários em caso de suspeita da diminuição auditiva. “Caso o paciente note alguma diferença, ou pessoas que convivam com ele levantem a possibilidade de ele estar escutando menos, é necessária uma consulta com um especialista. O exame de audiometria avalia se houve perda auditiva e qual o grau do dano”, explica a especialista.
Diversos celulares possuem a função de evitar esta exposição. Os dispositivos notificam os usuários dos aparelhos para diminuírem o volume do som, ajustam o volume automaticamente e, até mesmo, sugerem a opção de limitar a altura máxima do fone. De acordo com a OMS, o recomendável é manter o volume na metade da intensidade máxima, cerca de 80 decibéis. Acima desta média, há risco de sofrer lesões auditivas.
Seguir as recomendações médicas e manter os cuidados necessários podem, de fato, garantir a preservação da saúde. Para os casos em que a perda auditiva for constatada, a Dra. Bunzen reforça a importância do acompanhamento médico. “Quando diagnosticada precocemente, podemos indicar alguns medicamentos. Contudo, dependendo do padrão e do grau da lesão, o tratamento, na verdade, é a reabilitação auditiva, por meio do uso da prótese de amplificação sonora, conhecida como aparelho auditivo. Vale lembrar que este tipo de reabilitação deve ser prescrita e acompanhada por especialistas”, finaliza.
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