Por Roberta Ferreira
Nas últimas semanas, temos assistido ao surgimento de uma série de memes nas redes sociais que fazem uso debochado dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), valioso equipamento de Saúde Pública. Para além de toda essa suposta brincadeira, fica o questionamento quanto aos impactos que a mesma pode trazer à tona em todo o cenário nacional.
Para começo de conversa, vamos primeiro explicar o são os CAPS e qual a sua função na sociedade. Esses centros são dispositivos criados com o intuito de oferecer cuidados em saúde mental de forma próxima à população. Eles ofertam desde serviços básicos, como consultas e distribuição de medicamentos, até serviços mais complexos, como o cuidado em caso de crises e acompanhamento longitudinal para transtornos psiquiátricos graves. São compostos por equipes multiprofissionais, geralmente compostas por psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, entre outros. Sempre com vistas a oferecer um serviço adequado e completo para os seus usuários.
Agora que conhecemos um pouquinho mais deste dispositivo, fica o questionamento: porque fazer meme ou brincadeiras com um dispositivo de saúde tão sério e necessário? Só para entendermos a dimensão da sua necessidade, segundo um relatório divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2022, o Brasil é o país que apresenta maior número de adoecimento mental na América Latina, ficando também entre os 10 primeiros a nível mundial.
Esses dados são ainda mais alarmantes se levarmos em consideração o impacto social que eles proporcionam, pois, segundo a OMS, os transtornos mentais são a principal causa de incapacidade e afastamento do trabalho. Mas essa situação poderia ser evitada ou minimizada com o tratamento adequado. E eis que esbarramos no primeiro problema dos memes e “brincadeiras” sobre o CAPS.
Os adoecimentos mentais, como foi dito anteriormente, podem ser cuidados e suas consequências minimizadas. Porém, para que isso ocorra, é preciso que o paciente busque e aceite receber os cuidados necessários. O que em grande parte das vezes não acontece devido aos preconceitos e estigmas sociais em torno do adoecimento mental.
Piadas e “brincadeiras” com o CAPS (e também com o adoecimento mental) fortalecem esses pré-julgamentos e afastam ainda mais as pessoas que necessitam de alguma ajuda. Entendemos que esses dispositivos de atenção à saúde mental necessitam de visibilidade social. Entretanto, esta deve acontecer de forma a reforçar a necessidade de nos cuidarmos, enaltecendo a importância de instituições como os CAPS e não as depreciando.
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