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A campanha que vai além do mês de outubro e do cor de rosa

Por: Caroline Melo 20/10/2016 - 11:55 - Atualizado em: 20/10/2016 - 11:56
Foto: Freepik
A taxa de cura do câncer de mama é de mais de 80%
Laços, faixas, luzes, cartazes, camisetas cor de rosa. Em todo o mundo - literalmente! - as cidades se tornam rosa nesta época do ano em função da campanha Outubro Rosa.  Mas a verdadeira função de toda essa mobilização é entrar na casa das pessoas e ter peso dentro do ambiente familiar. Não basta colorir tudo em tons rosados sem lembrar de todas as outras implicações na vida da pessoa e de todos que a cercam.
 
 
"A campanha serve para contribuir para a reflexão da mulher, existe esse protocolo para que as mulheres vão se conscientizando", expõe o psicólogo e professor da UNINASSAU - Centro Universitário Maurício de Nassau, Flávio Romero Júnior. Para ele, essa conscientização da realidade sobre a doença é o ponto principal do Outubro Rosa. "Empoderar a mulher como responsável pela própria vida, através dessa campanha para cuidar da saúde, é cuidar da própria dignidade", opina.
 
E o argumento sobre o movimento não poderia ser melhor: a taxa de mortalidade desse tipo de câncer é relativamente baixa uma vez descoberto precocemente. De acordo com Antônio Douglas de Lima, médico oncologista, o câncer de mama "é uma doença altamente curável". Ainda segundo o médico, se tratado nos estágios iniciais o câncer tem um índice de cura de mais de 80%, enquanto a chance de cura cai para 3 a 5% em estágios mais avançados.
 
Apesar de ter alta possibilidade de cura, tumores na mama ainda são, entre os cânceres, os que mais causam morte no mundo, também por sua alta incidência. A pesquisa GLOBOCAN 2012, realizada pela Internacional Agency for Research on Cancer (Iarc), da Organização Mundial da Saúde (OMS), apontou que 25,2% dos casos de câncer encontrados em mulheres é na mama. Cerca de um terço dessas mulheres acabam levadas à morte.
 
A alternativa à fatalidade parece clara: prevenção! Mas, mesmo assim, muitas mulheres continuam relutando em realizar exames clínicos e mesmo o autoexame de mama. "As informações existem mas há uma cultura nossa de trabalho - e estresse - e as mulheres se esquecem do próprio corpo. Na sociedade em que a gente vive, nós dependemos do nosso corpo", conta Flávio. Sua exposição é reforçada por Mônica Diniz, médica dedicada à saúde da mulher, ginecologista e coordenadora do internato de ginecologia do curso da UNINASSAU.  "Elas não conhecem o próprio corpo porque não foram ensinadas a conhecê-lo. A mulher tem que conhecer o próprio corpo desde a adolescência. É uma questão de educação". Para a médica, a campanha faz parte de um processo de mudança no modo como a mulher reconhece seu corpo, cuidando para disseminar conhecimento a respeito do tema. "O auto exame regularmente faz com que a mulher descubra mais rapidamente a doença. A partir do momento em que a mulher recebe a instrução, ela pode identificar os nódulos precocemente", diz.
 
O que acontece depois
 
De repente, a mulher percebe uma anormalidade em seus seios. Fica alerta, faz as contas, tenta lembrar se aquilo está lá há muito tempo. Cutuca, observa se dói. Parece um tumor. Talvez seja.
 
Analisar seu papel de mulher no mundo começa, sem dúvidas, pelo reflexo do próprio corpo. Sentir-se mulher, na nossa sociedade, passa pelo simbolismo no qual as mamas são envoltas, uma vez que a representação da silhueta da mulher geralmente as inclui como uma característica importante. Então, ao descobrir um tumor, não é raro que as dúvidas e inseguranças da mulher se ancorem também nas mudanças físicas e inevitáveis.  "O câncer carrega estigmas, como a ideia de que vamos morrer, além de outros como ter que fazer a mastectomia"Esse sentimento de perda, de amputação, é tão forte que quando uma mulher descobre um câncer ela entende que vai perder a mama. Isso vai trazer à tona o imaginário da feminilidade, o papel do feminino", explica o psicólogo Flávio Romero Jr.
 
De acordo com o psicólogo, a mama ainda é uma representação de força importante para mulheres. Historicamente, muitos atos de empoderamento feminino tiveram a ver com as mamas. Como exemplo estão os protestos feministas de queima de sutiãs ou atos de topless. Hoje em dia, ainda há a luta para a amamentação pública e outros movimentos mais recentes, como o "Free The Niple", ou Liberte o Mamilo em tradução livre, que protesta por igualdade de gêneros e contra a objetificação sexual.
 
O impacto nessas horas é, então, é grande. Ter consciência de que o tratamento pesará na vaidade e no corpo da mulher pode até afastá-la dos exames. Segundo o oncologista Antônio Douglas, em todos os casos uma cirurgia será exigida, e o tratamento inclui cirurgia, quimioterapia, radioterapia e bloqueio hormonal, uma vez que o câncer é estimulado pela presença dos hormônios femininos estrogênio e progesterona. Mas, por mais que assuste, a saída não é fugir. "O tratamento depende do câncer. Às vezes pode-se fazer apenas uma parte dos processos, vai depender do tamanho e do grau do tumor. Por isso é importante descobrir quanto mais cedo possível", explica o médico. Ele também conta que não é necessário perder a mama por completo sempre. Existem dois tipos de cirurgia: a mastectomia, em que toda mama é retirada;  e a quadrantectomia, que é uma cirurgia conservadora e retira apenas um setor da mama, se o tumor for pequeno.
 
A família
 
"O papel da família tem que ser de cuidado e proteção. Parece clichê, mas o 'estamos juntos' faz muita diferença", explica Flávio Romero. Ele conta que a mulher mais madura geralmente atua como uma liga, uma cola importante dentro dos núcleos familiares, o que às vezes abala a confiança de todos ao redor. Mas essa é a hora de retribuir. "A família fica fragilizada, mas é importante oferecer a ela o suporte familiar, o acolhimento, o estar presente".
 
Outro papel na batalha contra o câncer de mama que envolve a família é a criação de hábitos. "Numa sociedade que coloca a mulher como submissa ao homem e não tem direito ao próprio corpo, ela ainda é vista como um projeção do que o homem gosta", expõe Flávio. Ele argumenta que, por causa dessa criação de um padrão feminino de fragilidade, castidade e beleza, as mulheres acabam se afastando do que são em busca de se encaixar em expectativas, o que gera um resultado ruim. "Por incrível que pareça há muita desinformação. A cultura de olhar o seu corpo, de se perceber e se sentir é desestimulada e as mulheres são criadas assim. Elas não criam o hábito de se cuidar e isso acaba sendo reproduzido de mãe para filha." E é isso que precisa mudar.

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