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Braille: código de escrita e leitura para cegos

No Brasil, são 6,5 milhões de pessoas com problemas sérios de visão, sendo cerca de 500 mil totalmente cegas e 6 milhões com baixa visão
Por: Taísa Silveira 04/01/2018 - 10:25
No Brasil, são 6,5 milhões de pessoas com problemas sérios de visão/Shutterstock
No Brasil, são 6,5 milhões de pessoas com problemas sérios de visão/Shutterstock

Por Rafaella Sabino

O tema da redação do Enem 2017, que abordou os desafios para a formação educacional de surdos no Brasil, trouxe à tona a falta de informação de grande parte das pessoas sobre a diferença do ensino para os deficientes auditivos e visuais. Logo após a prova, vários estudantes “confessaram” em suas redes sociais que haviam sugerindo o Braille como opção para os surdos ao invés da Língua Brasileira de Sinais (Libras).

Segundo estudo publicado recentemente pela revista científica Lancet, cerca de 36 milhões de pessoas em todo o mundo foram afetadas pela cegueira. No Brasil, são 6,5 milhões com problemas sérios de visão, sendo cerca de 500 mil totalmente cegas e 6 milhões com baixa visão. Esses números são do último Censo, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010.

“É urgente a necessidade de inclusão de pessoas com deficiência, seja ela qual for. Elas têm direitos como qualquer outra pessoa. Não adianta implantar políticas de inclusão nas escolas e empresas se não há acessibilidade e a participação de todos nesse processo. Depende de nós.”, ressalta a professora braillista Ana Rosa Aroucha.

Você sabe o que é Braille?

O Braille é um sistema mundial de escrita e leitura tátil utilizado por pessoas cegas ou com visão baixa. É baseado em 63 símbolos em relevo, que representam letras, números e sinais de pontuação. Cada combinação é formada por seis pontos, dispostos em duas colunas de três. Com o tempo e a necessidade, pequenas adaptações foram realizadas para a criação de grafias específicas para informática, química, matemática e música. A leitura é feita da esquerda para a direita, com o toque de uma ou duas mãos ao mesmo tempo.

Já a escrita requer um pouco mais de técnica. São utilizados dois instrumentos, chamados reglete e punção, além de um papel mais grosso que o comum. O reglete é uma placa de metal com pequenos orifícios, na qual deve ser colocado o papel. As marcações são feitas da direita para a esquerda, levemente, com o punção - uma espécie de agulha com a ponta arredondada. A ideia não é furar o papel e sim marcá-lo. Ao final, deve-se virar a folha para a leitura.

A técnica foi criada pelo francês Louis Braille, em 1824. Ele perdeu a visão aos três anos, após um acidente na oficina de seu pai, e aos dez foi enviado para estudar no Instituto Real de Jovens Cegos de Paris. Foi lá onde conheceu o sistema de comunicação criado por Charles Barbier, baseado em um método tátil com pontos em relevo, usado nos campos de batalha. Louis passou a estudá-lo com afinco a fim de simplificá-lo, até que em 1824, com 15 anos, conseguiu criar o sistema como conhecemos hoje. 

Tecnologia acessível

A tecnologia se tornou essencial na vida de qualquer pessoa, e não poderia ser diferente com os deficientes físicos. Inclusive, ela promoveu enormes melhorias na comunicação, proporcionando uma maior autonomia na vida deles.

No caso dos computadores, por exemplo, a utilização por parte das pessoas com deficiência visual é possível por meio do uso de softwares de leitura. Esses programas transformam as informações mostradas na tela em áudio. Também existem outros que transcrevem textos em Braille para caracteres alfanuméricos. Como não enxergam a seta do mouse, os cegos dão os comandos por meio do teclado, que pode ser o tradicional ou o adaptado, com teclas com o código braille em alto relevo.

Para as pessoas com visão baixa, existe a opção de telados com caracteres em tamanho ampliado e cores destacadas. Alguns modelos chegam a ser quatro vezes maior que o tradicional. Já na tela do computador, elas podem utilizar lupas virtuais e aumentar o tamanho das fontes. Também existem a máquina de datilografia Braille e a impressora que imprime os códigos em alto relevo. 

No celulares também é aplicado um software que tem a mesma função do usado no computador. Na plataforma Android é o Talkback, e no Iphone é o VoiceOver. Outra tecnologia que facilita a vida é a OCR - usada para reconhecer caracteres a partir de um arquivo de imagem. No caso das pessoas cegas, ela é adaptada com voz. Basta passar o equipamento em cima de um texto e ele “lerá” o que tem escrito. O Display Braille, conhecido como Linha Braille, funciona de forma parecida, sendo que o aparelho também dá a opção da leitura através do tato.

Para Ana Rosa, apesar dos grandes avanços tecnológicos, o Braille sempre terá a sua importância. “Existem muitos materiais que auxiliam bastante a educação das pessoas com deficiência, mas são complementares. O Braille é a base da educação para cegos.”, finaliza.

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