Fatos que não caberiam em um único livro, mas sim em numa coleção. Assim são as histórias que constroem a cidade baiana, Vitória da Conquista que, nesta sexta-feira (19), completa 178 anos. Com a ajuda do historiador do Arquivo Municipal de Vitória da Conquista, Jailson Ribeiro, separamos quatro fatos curiosos que ganharam destaque no município, mas que nem todo conquistense sabe. Confira!
De Conquista para Vitória da Conquista
Antes da cidade ter o nome atual, era chamada apenas de Conquista. De acordo com Jailson, o nome foi dado em razão da tomada de terra dos índios pelos portugueses e espanhóis à época. A mudança aconteceu somente em 1943, quando Conquista também ganhou o ‘Vitória’ na frente, devido ao nome ser igual ao de um município mais antigo, em Minas Gerais. A redundante nova nomeação ocorreu com registros nos poucos veículos de comunicação da cidade. Um deles foi o no jornal de nome ‘O Combate’, que anunciou a mudança ressaltando que a cidade permaneceria com nome do passado, por conta de suas lutas e vitórias. O jornal ‘O Combate’ também parou de circular em 1964, mas os arquivos seguem presentes.
O romance entre o vigário e uma mulher casada
Um padre e uma mulher casada. Parece até história de cinema, mas aconteceu na vida real. O amor proibido entre os dois marcou a história da cidade e tem registro até hoje. A esposa de um capitão conhecido na época, Maria Clemência, foi acusada de adultério por se relacionar com o vigário conhecido da cidade, o Bernadino Correia de Mello.
Sentindo-se culpado com o que fez, o padre resolveu ir embora da cidade, enquanto que Maria Clementina também quis largar tudo e seguir seus passos. Bernardino, no entanto, não a quis mais e seu marido a abandonou pela traição.
Segundo os causos populares, a mulher acabou enlouquecendo e seus filhos convenceram o pai de perdoá-la. Ele a recebeu de novo e lhe doou algumas cabeças de gado. Juntos, o casal foi até a Câmara Municipal, registrar a documentação de perdão.
A história aconteceu em 1850 e está registrada em um dos arquivos mais antigos de Vitória da Conquista: trata-se de atas da Câmara Municipal, em que relatos de traições, doações, empréstimos, eram fartamente documentados.
Escrita icônica dos Sertões
De 1893 a 1943, foram criados os primeiros registros das famílias tradicionais. Tratava-se de uma espécie de brasão feito em animais de domínio de grandes senhores donos de terras para enaltecer as iniciais que remetiam ao nome e sobrenome marcantes da linhagem de parentesco.
A mesma marcação feita na pele desses animais em altas temperatura tornava-se a de registros documentais em cartório. Jailson explica que, por muito tempo, essas iniciais serviram de representação de poder.
Conflito do Tamanduá
Quando a história parece mais um filme, aí é que vira mesmo roteiro de cinema. Assim aconteceu com o ‘Conflito do Tamanduá’, em Vitória da Conquista, em 1985. O episódio ganhou esse nome devido a uma chacina que matou 22 pessoas de uma mesma família, na antiga Fazenda Tamanduá. O crime foi resultado de uma vingança, de rixas geradas por disputas de terra e exercício de poder entre duas famílias rivais.
De um lado a viúva Lourença de Oliveira, do outro, o coronel Domingos Ferraz de Araújo. Lourença tinha 3 filhos e dois deles se cruzaram com o sobrinho de Domingos, Afonso Lopes Moitinho. Em uma discussão, os filhos da viúva deixaram Afonso muito ferido e fugiram.
Tempos depois, Afonso se forma como sub-delegado da cidade e dá voz de prisão aos dois herdeiros da viúva que havia lhe agredido. O historiador explica que eles negam a voz de prisão e em outro conflito, Afonso os mata na frente da viúva Lourença. É então que Calixto, o 3º irmão chama alguns jagunços, também rivais, da família para vingar o crime e a dor de sua mãe.
Armados, eles cercam todos os entornos da fazenda e iniciam uma guerra, no estilo faroeste. O duelo dura dias e, somente depois de muito resistir, a casa do Coronel Domingos fica sem munição suficiente para defesa. É então que invasores finalmente conseguem dominar todo o local e executar os 22 familiares no mesmo dia.
*Na foto ao lado, um registro cedido pelo Arquivo da cidade e historiador Jailson Ribeiro de Afonso Lopes Moitinho.
Conheça o Arquivo de Vitória da Conquista
Jailson ressalta que essas e muitas outras histórias estão disponíveis no Arquivo Público da cidade aberto à população. São relatos de conflitos políticos e sociais ocorridos no século XIX. “Infelizmente todo esse patrimônio documental ainda é pouco conhecido e procurado pelo grande público da nossa cidade. Embora essa perda de contato com a memória e história da cidade seja um fenômeno global, ainda é relevante conhecer nossa identidade social e cultural”, endossa o historiador.
A Uninassau tem orgulho em fazer parte da história centenária de Vitória da Conquista!
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